Cambas e collas: é possível um viver bem sem o outro?

 Roberto Villar Belmonte*

“Existem cinquenta tons de verde”, constatou a ex-ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira na abertura do V Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental, realizado em outubro de 2013 em Brasília (DF), em referência bem humorada ao best seller “Cinquenta tons de cinza” da escritora inglesa Erika Leonard. Talvez eu já tenha encontrado bem mais do que cinquenta tons de verde desde 1991, quando comecei, como jornalista profissional, a acompanhar os debates que envolvem o meio ambiente. O que aparentemente seria uma boa coisa, pois, em tese, quanto mais pontos de vista melhor. O problema é que, na prática, os tons de verde, por mais incrível que possa parecer, costumam não apenas destoar entre si, mas também buscam sempre que podem ofuscar uns aos outros. As divergências viram regra, as convergências exceção. Não raro os mais de cinquenta tons de verde cristalizam-se em torno de apenas duas pobres tonalidades, ranzinzas, sectárias, geralmente intolerantes. Continuar lendo Cambas e collas: é possível um viver bem sem o outro?

Quem cobre temas ambientais no Brasil?

Por Roberto Villar Belmonte

Após a descoberta de mais um crime ambiental da Vale, dessa vez em Brumadinho (MG), a pauta ambiental permanece há dias na primeira página dos principais jornais brasileiros e merece longas reportagens nas emissoras de televisão do país.

Fenômeno semelhante ocorreu durante grandes eventos ambientais, como a Rio 92 e a Rio + 20. Conferências do clima da ONU e relatórios do IPCC também conseguem chamar a atenção das principais redações brasileiras.

Desastres e grandes eventos sempre são pautas factuais de destaque, com alto valor-notícia. Quando terminam tais acontecimentos, quase todos esquecem novamente da pauta ambiental.

O Ricardo Kotscho brincou com isso nessa semana em seu blog dizendo que os repórteres seriam como os bombeiros, só aparecem quando toca a sirene. A comparação é boa. Lembrou ainda das grandes coberturas nacionais realizadas pelo Estadão.

Tem razão o Kotscho, o Estadão e a Agência Estado já foram referência na cobertura de temas ambientais no Brasil. Atualmente, quem luta para manter os temas ambientais na pauta do jornal O Estado de S.Paulo é a repórter Giovana Girardi.

Esse comportamento não é novidade, faz parte do jornalismo. Por isso defendi no livro Formação & Informação Ambiental (Summus, 2004) menos catástrofes e mais ecojornalismo. A cobertura ambiental é uma questão de sobrevivência.

Voltei a esse tema recentemente em artigo sobre silenciamentos da imprensa publicado na Revista Famecos em parceria com as colegas do Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental (CNPq/UFRGS) Eloisa Beling Loose e Ângela Camana.

Ainda segundo Kotscho, “precisamos ter mais Trigueiros”. Concordo. Mas também falta, por diversas razões, coragem para a imprensa brasileira enfrentar sem trégua o lobby dos grandes devastadores públicos e privados.

Para contribuir com essa conversa sobre a necessidade de manter os temas ambientais na pauta diária do jornalismo, compartilho levantamento que estou fazendo para a minha pesquisa de doutorado sobre o jornalismo ambiental brasileiro.

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Pesquisadora resgata história ambiental do Parque da Guarita criado por Lutzenberger em Torres

Morro das Furnas com o município de Torres (RS) ao fundo – Crédito: Bob Villar
Morro das Furnas com o município de Torres (RS) ao fundo – Crédito: Bob Villar

Por Roberto Villar Belmonte

A historiadora ambiental Elenita Malta resgata o trabalho paisagístico realizado por José Lutzenberger no Parque Estadual da Guarita em Torres (RS) em artigo publicado na edição de julho/dez de 2016 da Métis, a revista de História da Universidade de Caxias do Sul. Lutzenberger e a materialização da ética ecológica: o Parque Estadual da Guarita (Torres-RS, 1972-1979) está disponível aqui. Continuar lendo Pesquisadora resgata história ambiental do Parque da Guarita criado por Lutzenberger em Torres

Paraninfo

Recebendo convite para ser paraninfo dos formandos de Jornalismo da UniRitter no dia 13 de outubro
Recebendo convite para ser paraninfo dos formandos de Jornalismo da UniRitter no dia 13 de outubro – Crédito: Formandos / Divulgação

Por Roberto Villar Belmonte

As mãos trêmulas e a emoção na voz da Caroline Correa Nunes jamais esquecerei. Na noite do dia 13 de outubro, uma quinta-feira, os formandos do curso de jornalismo do Centro Universitário Ritter dos Reis – UniRitter entraram na minha sala de aula para me trazer um convite especial. Continuar lendo Paraninfo

O jornalismo (e suas teorias) no mundo contemporâneo*

Por Ana Carolina Oliveira Pinheiro**

O imaginário que cerca o jornalismo é bastante vasto. Inúmeros filmes, livros, séries etc. estão aí para provar que a profissão é pauta recorrente no imaginário coletivo. Paralelamente à ficção, o ser jornalista vem sendo também objeto de pesquisa de inúmeras teorias, bem como o seu fazer jornalístico.

Ao longo dos anos, a história do jornalismo e a identidade profissional dos jornalistas sofreram grandes modificações devido às inovações tecnológicas e às várias mudanças econômicas, políticas, culturais e sociais que surgiram com o mundo contemporâneo. Segundo Traquina, em seu livro Teorias do jornalismo: porque as notícias são como são (2005), no final do século XIX, a definição do polo comercial e do polo ideológico como os dois polos dominantes no campo jornalístico moderno é um dos marcos dessa transição. Continuar lendo O jornalismo (e suas teorias) no mundo contemporâneo*

Qual o papel do Estado na gestão ambiental?

Promotor de Justiça Daniel Martini, coordenador do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente do Ministério Público do Rio Grande do Sul, defende novo ordenamento jurídico para o meio ambiente durante XI SEPesq da UniRitter – Crédito: Gabriel Ribeiro / Agex UniRitter
Promotor de Justiça Daniel Martini, coordenador do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente do Ministério Público do Rio Grande do Sul, defende novo ordenamento jurídico para o meio ambiente durante XI SEPesq da UniRitter – Crédito: Gabriel Ribeiro / Agex UniRitter

Debate promovido durante a XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação da UniRitter discutiu o papel do Estado na gestão ambiental. Participaram do evento o Promotor de Justiça Daniel Martini, a Juíza de Direito Patrícia Laydner, o professor de Direito Constitucional Eduardo Carrion e a professora de Direito Ambiental Karine Migliavacca.

Por Roberto Villar Belmonte

Na defesa do meio ambiente, o Estado brasileiro utiliza instrumentos jurídicos inadequados que precisam ser complementados. Além disso, a ausência de estrutura estatal cria um estado de inconstitucionalidade. A atual desgovernança ambiental é resultado destes dois fatores.

Esta foi a tese defendida com ênfase pelo Promotor de Justiça Daniel Martini, coordenador do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente do Ministério Público do Rio Grande do Sul, um dos convidados para o debate sobre o papel do Estado na gestão ambiental realizado no dia 21 de outubro no campus Zona Sul da UniRitter de Porto Alegre, dentro da programação cultural da XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação.

Os instrumentos jurídicos utilizados no Brasil têm o objetivo de reprimir e punir, e assim acabam mantendo o status quo, afirmou Martini. Para o Promotor de Justiça, se no lugar do ordenamento protetivo-repressivo fossem utilizados instrumentos econômicos seria possível fomentar, pelo mercado, bons comportamentos. Continuar lendo Qual o papel do Estado na gestão ambiental?

Teoria do Jornalismo: “bode que é bom berra na sala!”

Roberto Villar Belmonte*

Blog

Prezado admirável mundo novo, do tudo ao mesmo tempo agora, das torcidas fanáticas de avatares, dos ciborgues em conexão compulsiva, dos terabytes de memória na ponta dos dedos, das intermináveis versões do mesmo, das muitas – mas tantas vezes inexploradas – possibilidades do diferente, das solidões interativas em múltiplas plataformas de auto publicação, dos amigos que nunca conheceremos, qual o papel que reservas para o Jornalismo neste teu mundo de fragmentos? Continuar lendo Teoria do Jornalismo: “bode que é bom berra na sala!”

II Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo Ambiental

http://jornalismoemeioambiente.com/
http://jornalismoemeioambiente.com/

O II Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo Ambiental será realizado de 29 a 31 de maio em Porto Alegre – RS. Seu principal objetivo é reunir pesquisadores docentes e discentes interessados no diálogo sobre o atual momento de investigação no tema e possibilidades futuras de atuação compartilhada.

Serão três dias de trabalho, incluindo conferências, painéis, reunião de Grupos de Pesquisa e sessões de apresentação de trabalhos acadêmicos. O evento conta com apoio da Capes – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior e da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

As inscrições serão aceitas até a data do evento (link a seguir). Os valores são: até 30/04 – R$50,00 para estudantes (graduação e pós-graduação) e R$ 80,00 para o público em geral (professores, pesquisadores, profissionais); após 30/04, – R$ 60,00 para estudantes e R$120,00 para o público em geral. Pesquisadores com apresentação de trabalho são isentos de taxa, devendo apenas enviar os dados solicitados no link: http://jornalismoemeioambiente.com/enpja/ . Continuar lendo II Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo Ambiental

Um aviso da Terra

Poema produzido para a disciplina de Jornalismo Ambiental por Shalynski Zechlinski, estudante de 5º semestre do curso de jornalismo da UniRitter / Porto Alegre (RS), inspirado na leitura do livro Colapso, de Jared Diamond.

Crédito: Carta da Terra, disponível em http://www.earthcharterinaction.org/content/categories/Communication%20and%20Media
Crédito: Carta da Terra, disponível em http://www.earthcharterinaction.org/content/categories/Communication%20and%20Media

Alô homo sapiens sapiens,
cadê a sua sapiência?
Se diz tão inteligente,
busca a longevidade da vida
mas esquece do mais importante:
o caos que causa todos os dias
Alô, alô terráqueo!
Aqui quem fala é a Terra
Não é engano
Essa ligação é direta

Senhor homo, com tantos estudos,
inteligente, adepto a inúmeras tecnologias
será que você esqueceu das civilizações antigas?
Aquelas grandes potências que hoje não existem mais
Não imaginavam, não esperavam
não podiam prever que poderiam desaparecer
Mas e você?
Sapiens sapiens tão pensante e cheio de recursos,
ainda sim está seguindo o mesmo caminho dos povos antigos

De que serve toda sua erudição e tecnologia?
Prever os problemas, se continua me levando ao colapso?
Alô, alô terráqueos eu não sou marciano
Preste atenção!
Eu sou de toda a natureza
Por favor, não acabe com a minha beleza
O mundo não é do homem
E você senhor sapiens, precisa cuidar do planeta Continuar lendo Um aviso da Terra

Mudança do clima exige medidas de adaptação no campo

Relatórios divulgados pelo Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas avaliam estudos sobre aquecimento global e apontam medidas de adaptação e mitigação para o campo

Por Roberto Villar Belmonte

Para alcançar o desenvolvimento nacional, a segurança alimentar, a adaptação e a atenuação das mudanças climáticas, assim como as metas comerciais nas próximas décadas, o Brasil precisará elevar de forma significativa a produtividade por área dos sistemas de cultivo de produtos alimentícios e de pastagens, reduzindo ao mesmo tempo o desmatamento, reabilitando milhões de hectares de terra degradada e adaptando-se às mudanças climáticas.

PlanoA recomendação faz parte do relatório “Impactos, Vulnerabilidades e Adaptação” divulgado no final de 2013 pelo Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas. O aquecimento global, segundo este estudo, poderá colocar em risco a produção de alimentos no Brasil, “caso nenhuma medida mitigadora e de adaptação seja realizada”. O País poderia perder cerca de 11 milhões de hectares de terras adequadas à agricultura, por causa das alterações climáticas até 2030. Continuar lendo Mudança do clima exige medidas de adaptação no campo